Quem é mais sentimental que eu?

"Quando não estás aqui sinto falta de mim mesmo,

e sinto falta do meu corpo junto ao teu, 

meu coração é tão tosco e tão pobre."
Renato Russo

            Era madrugada quando eu senti estupidamente sua falta, aquele frio de início de inverno me corroia por dentro, nem centenas de edredons, casacos, meias, luvas, esquentavam foi aí que eu percebi que o frio não vinha de fora, vinha de dentro de mim, como se tudo estivesse congelando-se, como se a sua falta estivesse tomado conta de tudo aqui, como se nada além da sua presença pudesse me fazer esquentar. Por aqui deveria está fazendo menos zero grau Celsius, eu já estava quase entrando em hipotermia, tudo aquilo era completamente estranho pra mim, pois jamais havia sentido algo parecido. Sei bem que sinto sua falta todos os dias, mas nada se comparava a aquela madrugada. Rolava, rolava entre os edredons tentando de alguma forma dormir, mas eu acho que a madrugada serve pra pensar e não pra dormir, pelo menos tem sido assim comigo. Pensei em te ligar, pensei em dizer que estava com saudades, na verdade estava morrendo de saudades, era algo fora do normal, mas acho que se eu te dissesse tudo que estava acontecendo você não me entenderia, me chamaria de maluca e o caralho iria mandar eu dormir e deixar você em paz. Seria bem isso, não tenho dúvida.

            Como é difícil, você amar algo tanto dessa forma e não ter reciprocidade, sabe o que mais me enfurece é o fato de que eu estou desperdiçando todo esse meu amor por alguém que não está nem se importando pra o que eu sinto, que trágico, que frustrante. Ou nessa história toda, eu devo ser a burra, que estou dando murro em pontas de facas, que me estou auto ferindo. Talvez a culpa seja minha mesmo.  Espero que quando tudo isso acabar, que eu consiga sentir algo parecido por outro alguém.

O que é isso que me devora por dentro? É amor? É solidão? Não sei ao certo. Só sei que não me reconheço mais, só sei que se tudo já era difícil, depois que você se foi tudo piorou e piorou muito. Posso está sendo super dramática, mas faz falta sabe? Faz falta um cafuné, um beijo na testa, um abraço apertado, um sorriso ao ver-te de longe, faz falta não ver meus olhos brilhando, faz falta meu sorriso singelo e sincero. Tudo faz falta, você faz uma falta filha da puta, que me dói por dentro, toda às vezes eu respiro, e por esta falta ser tamanha eu acabei perdendo tudo de mais bonito que eu tinha, não sei se eu perdi ou se você levou consigo, só sei que parei de ouvir umas músicas pra chorar menos, parei de ler alguns romances para lembrar menos de você, parei de ver filmes para lembrar menos ainda de você.

            Até as minhas palavras perderam-se o rumo, lembra quando me disseste que eu escrevia tão bem, que a minha poesia fazia bem ao teu coração? Pois é, nem escrever eu consigo mais. Uma vez eu li uma frase da queridíssima Clarisse Lispector que dizia: “Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida.” Hoje eu escrevo simplesmente para não afogar-me, para não sufocar todas essas coisas ruins em mim, escrevo para tentar aliviar a dor, escrevo sobre a dor, para quem antes escrevia sobre o amor, são coisas bem distintas né? Pesando bem, não são tão distintas assim, pois foi um amor que causou toda essa dor, e foi por amor, e eu acho que quando é por amor vale a pena.

            Ninguém me entende, as pessoas acham que é drama demais, acham que eu sou nova demais pra sofrer de amor, acham que é simplesmente puro drama. Mas ninguém sabe o que eu carrego no peito, e eu acho que não devem julgar sentimentos, alias sentimentos cada um tem o seu e cada um tem a sua forma de amar e posteriormente de sofrer. Eu sou completamente intensa eu amo ao extremo e consequentemente sobre ao extremo. Obstinada, eu rezo. Eu não tenho o poder, tenho a prece.

Isa Ribeiro